quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A casa que voou

Um dia a casa foi-se embora.
Simplesmente ergueu-se do chão e levantou voo.


E se um dia a nossa casa voasse?  Talvez ficássemos tão perplexos e perdidos como o proprietário desta casa. Sem saber o que fazer, dada a inusitada  situação, decidiu pedir ajuda às entidades oficiais


Deambulou, desesperado, entre Câmara Municipal, Gabinete dos Desastres Naturais, Gabinete dos Perdidos e Achados, Gabinete de Facilitação e Segurança Civil... 


O resultado não é inesperado. Perante o estranho acontecimento, o homem não só não logrou qualquer ajuda dos cinzentos burocratas como ainda colheu algumas insólitas respostas. Obviamente, homem estava muito aborrecido


Entretanto, lá em cima, a sua casa andava às voltas como um pássaro.


Sem nada a perder, decidiu-se por conta própria. Enquanto ela voava , ele seguia-a, cá em baixo, no carro. A perseguição durou dia e noite, até que... Oh, metam-se no carro e vão atrás dela até à livraria mais próxima!  
Uma viagem com o doce sabor do retorno à infância. 


Já aqui o dissemos várias vezes, Davide Cali é dono de um senhor humor. Escrevemo-lo recentemente a propósito do livro Não Fiz os Trabalhos de Casa Porque... Mas também de uma fina sensibilidade com que sempre toca os seus leitores.  Muitas são as viagens em que apanhámos boleia: Eu Espero... Um Dia, Um Guarda-Chuva, Arturo, são apenas alguns exemplos.
Juntar no mesmo livro um texto de Cali e o humor e a inteligência das ilustrações de Catarina Sobral pressupõe estar condenado ao sucesso! Parabéns à Bruaá por apadrinhar a genial parceria!


No seu estilo inconfundível, a ilustradora conduz-nos numa dupla viagem, a da casa e a do dono. Em busca do desfecho desta louca aventura, acompanhamos cada movimento em terra e no ar. As cores alegres e vivas que usa para pintar a natureza contrastam,  de forma inteligente e divertida, com o cinzento das repartições públicas, povoadas de gente enfadonha e também ela cinzenta. Uma parafernália de elementos percorre o livro, fazendo-nos sorrir a cada página. Os quadros que revestem as paredes, os objectos da secção de Perdidos e Achados, a alternância da cor do laço do proprietário da casa... são apenas alguns apontamentos reveladores do humor e da inteligência que sempre coloca no seu trabalho. 


Sobral continua a apaixonar-nos com o seu traço de menina. Encantam-nos as suas casas, os carros, as árvores e os pássaros que com elas coabitam, e que sempre nos fazem voar para o universo da infância. À semelhança da caprichosa e inteligente casa que, um dia, se fartou da cidade e voou em busca de um lugar impregnado do perfume das figueiras e do cheiro a lenha queimada.

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