quinta-feira, 21 de julho de 2016

Boas Férias & Boas Leituras

Catarina Correia Marques

É tempo de férias. Aí vamos nós... à procura de descanso e de livros! Regressamos em Setembro.  Até lá, boas férias e  boas leituras!

FÉRIAS COM LIVROS IV


Três com Tango chegou em tempo de férias, mas é um livro para ler em qualquer altura e em qualquer lugar. É um livro para gente miúda e graúda. É um livro para todas as famílias. Onze anos depois de ter sido publicado nos Estados Unidos, acarinhado por tantos e criticado por muitos, a Kalandraka trouxe-o para Portugal.



Baseado numa história verídica ocorrida no Zoo do Central Park, em Nova Iorque, o livro narra o dia a dia de dois pinguins machos a quem é concedida a possibilidade de constituirem uma família. Roy e Silo eram dois rapazes que faziam tudo juntos. Faziam vénias e cantavam um para o outro, caminhavam e nadavam juntos. 



Observavam os outros casais de pinguins e faziam tudo como eles. Não hesitaram em construir o seu ninho de pedras. Tal como faziam os outros casais de pinguins, Roy e Silo também dormiam lá todas as noites.


Um dia, descobriram que havia algo que os outros casais de pinguins conseguiam fazer e eles não. As mamãs-pinguim punham um ovo e mais tarde nascia um bebé-pinguim. O ninho que Roy e Silo tinham feito era bonito, mas estava sempre vazio.


Uma vez, Roy levou para o ninho o que encontrou de mais parecido com um ovo. Mas era apenas uma pedra e apesar de a terem chocado com muito amor e zelo, dela nada nasceu.


Foi Gramzay, o guarda dos pinguins que há muito concluira que os dois estavam apaixonados, que lhes proporcionou a oportunidade de serem pais. O ovo era de um outro casal que já tinha chocado ovos muitas outras vezes, mas que não conseguia tomar conta de mais do um ovo de cada vez.


Roy e Silo foram pais de Tango, uma fêmea que se tornou  o primeiro pinguim do Zoo a ter dois papás. A família tornou-se o centro das atenções no Central Park e nós, leitores,  ganhámos um livro inesquecível. 


Uma história bela, que prova que o amor fala sempre mais alto. E que, independentemente das diferenças de cada um, os laços feitos de afectos são inquebráveis. Não podemos ser todos pinguins?

terça-feira, 19 de julho de 2016

FÉRIAS COM LIVROS III


Em Julho de 2014, escrevíamos aqui sobre O Dia Em Que Os Lápis Desistiram, uma das nossas sugestões para leitura em férias.  Dois anos depois, em tempo de férias e de regressos, falamos de O DIA Em Que Os Lápis Voltaram A Casa, também ele trazido pela Orfeu Negro.


No decurso destes dois anos, muita coisa se terá passado entre Duarte e os seus lápis. Talvez nem mesmo ele se tenha dado conta... Certo é que, um dia em que estava a desenhar alegremente, recebeu um estranho molho de postais pelo correio.


Os postais chegavam de sítios diversos e contavam histórias bem diferentes. O lápis vermelho-vivo, por exemplo, escreve-lhe do hotel onde tinham passado férias oito meses antes. Depois do desenho que tinham feito do escaldão do pai do Duarte, este deixara-o esquecido na piscina. Oito meses à espera é demais e decidiu regressar a pé...


A viagem será tão longa quanto hilariante.  Mesmo o leitor mais pequeno consegue perceber que geografia não é o forte do lápis vermelho. A identificação que  vai fazendo dos locais por onde passa é susceptível de provocar poderosas gargalhadas a miúdos e a graúdos.


Humor é o que não falta neste segundo livro da magnífica dupla Drew Daywalt e Oliver Jeffers. Há lápis esquecidos na cave, partidos ao meio do sofá, a derreter ao sol e até há quem se tente recompor depois de ter sido...comido por um cão e vomitado no tapete!!


O Duarte ficou triste por saber que tinha perdido, esquecido, partido ou desprezado tantos lápis ao longo dos anos. Por isso foi a correr recuperá-los a todos.


O problema é que, agora, os lápis estavam tão estragados e tão diferentes...  Descubram, descubram a genial ideia que Duarte teve para reunir de novo os seus lápis e dar resposta a tanta reivindicação! 


Para quem já era fã de O Dia Em Que Os Lápis Desistiram, os novos desenvolvimentos da vida dos lápis do Duarte são imperdíveis! Os outros?  Apressem-se, porque suspeitamos que, com tamanhas criatividade e imaginação, a dupla Daywalt & Jeffers não se ficará por aqui.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

FÉRIAS COM LIVROS II




Ora aí está algo que gostamos mesmo muito de fazer em férias, contar quilómetros! Foi com imenso prazer que nos deixámos conduzir por Madalena Matoso, numa viagem patrocinada pelo Planeta Tangerina



Sentados ao volante deste livro, os leitores decidem o seu destino e escolhem o formato da sua viagem: passeio curto ou expedição de muitos dias? A acelerar ou a pastelar? Pela estrada da montanha ou pelo caminho junto à costa? 
A informação vem na contracapa, mas assim que abrimos o livro, ou melhor, iniciamos a viagem, percebemos logo que são várias as opções e que não queremos abdicar de nenhuma!



Em jeito de aviso, os leitores ficam igualmente a saber que o plano inicial não é para ser cumprido à risca e que, pelo caminho, vão encontrar paisagens inesperadas e algumas situações imprevistas que os podem levar para muito longe do destino planeado...



Este é um livro que os mais pequenos não vão querer perder! Aventurem-se! Estrada fora, livro dentro.


sexta-feira, 15 de julho de 2016

FÉRIAS COM LIVROS I


Férias são férias e as portas da escola bem podem ser fechadas. Mas isso não impedirá a pequenada de poder ir magicando e reservando algumas boas desculpas para quando voltarem a chegar... atrasados!


Depois do Não Fiz os Trabalhos de Casa Porque... de que falámos aqui,  a Orfeu Negro volta a presentear-nos com outro livro da dupla Davide Cali e Benjamin Chaud,   Cheguei Atrasado à Escola Porque...


Um verdadeiro emaranhado de incidentes e acasos, todos ligados entre si, acabam por transformar-se no gigantesco contratempo que conduz ao atraso. 
Tudo começa com umas formigas gigantes que decidem comer o pequeno-almoço do rapaz... 


O dito contratempo revela-se, afinal, uma hilariante história, assente numa elaborada e gigantesca confusão.  Ninjas ferozes, bailarinas estranhas ou monstros-bolha peganhentos são apenas algumas das personagens que habitam as magníficas páginas do livro.


De forma inesperada, ou talvez não, à medida que percorre as páginas, o leitor é igualmente convidado a revisitar  outras histórias bem conhecidas, como Capuchinho Vermelho, o Flautista de Hamelin ou Alice no País das Maravilhas. Uma parafernália de elementos conduz os mais pequenos à rápida identificação de alguns dos clássicos da literatura.


Uma máquina do tempo parece assumir papel preponderante no desenlace da história, capaz de surpreender não só os leitores como também a professora a quem a história é narrada. 


Ponham a criançada a ler e a dar largas à imaginação! No regresso à escola, chegar atrasado será praticamente inevitável!


terça-feira, 5 de julho de 2016

O Cão Que Comia a Chuva


Richard Zimler escreveu. Júlio Pomar ilustrou. O resultado é um livro de extrema delicadeza. Apaixonante pelo que conta, irresistível pela proximidade que nos incute com as  personagens que vivem nas suas páginas. 


Bullying é uma palavra de origem inglesa que, infelizmente, todos conhecemos e muitos vivenciamos. Sem que alguma vez apareça escrita ao longo do livro, ela está presente na cabeça do leitor desde que a história começa a ser contada por Violeta, a gata da casa. 


O começo é precioso... 
Quase toda a gente disse que não estava bem que o cão tivesse derrubado o rapaz e o tivesse mordido, mesmo que ele o merecesse. Se calhar tinham razão. Mas eu não podia culpar o Adão. Se fosse tão grande e forte como ele, talvez tivesse feito bem pior! Mas as minhas emoções estão a conduzir-me para o fim da história antes de contar o começo...
Fugindo à tentação, Violeta conta-nos que mora em Lisboa, numa pequena casa branca, com cortinas amarelas nas janelas, perto do jardim da Estrela, e apresenta-nos a família. Partilha o quarto com Adão, um border collie, com focinho e corpo metade branco, metade preto, que tem por hábito morder a chuva.


Sempre que alguém faz troça do Adão por morder a chuva, Sílvio, o pai (que não é biológico, esclarece Violeta) responde com orgulho que o cão tem uma natureza poética. Violeta não sabe muito bem o que isso quer dizer, mas vai logo adiantando que, se significar que Adão não é bom da cabeça, concorda plenamente! Mas, como acha que os outros devem fazer aquilo que os deixa felizes, se o irmão mais velho gosta de comer gotas da chuva, por ela tudo bem.


Da família fazem ainda parte a mãe Margarida, Pi, a irmã adolescente e o Zé, que também é irmão deles, mas não é um cão. É um rapaz de 11 anos, que cuida dela e de Adão. A relação de grande cumplicidade entre os três intui-se. Zé leva-os a passear pelas ruas de Campo de Ourique, joga futebol com eles e, aos sábados de manhã, leva-os à pastelaria da esquina, compra-lhes biscoitos e deixa-os comê-los às escondidas, sem os pais saberem. 


Sem qualquer esforço, cedo se adivinha o importante papel que o elemento mais novo da família assume na vida dos dois. Violeta quer que o leitor o conheça bem e presenteia-nos com uma lista de algumas coisas que o Zé adora:
- Devorar biscoitos de aveia.
- Plantar flores no nosso jardim com o pai.
- Tocar flauta.
- Folhear as brochuras das viagens que a mãe leva para casa.
- Jogar como guarda-redes na sua equipa de futebol.
- Desenhar borboletas com cores brilhantes.
Na verdade, o Zé gosta de qualquer coisa que tenha asas. Às vezes sonha que é um pássaro. E às vezes corre pelo jardim com os braços no ar - uma águia a sobrevoar Portugal.


Um dia, o Zé deixou de ter vontade de fazer qualquer uma destas coisas. O rapaz alegre que conheciam cedeu lugar a um outro bem diferente, capaz de gestos e atitudes irreconhecíveis. Os primeiros sinais pareciam ser perceptíveis apenas por Violeta e Adão, já que o Zé teimava em ocultá-los. Preocupados e tristes, escapavam-lhes as razões da abrupta mudança do rapaz.  


A vida lá em casa mudou. Começou a ficar estranha. Os pais estavam preocupados e mais atentos do que nunca, mas o Zé teimava em esconder as marcas do que o atormentava. Como se não bastasse,  os 12 anos de Adão pareciam começar a pesar-lhe. Deixou de subir as escadas. Os dias estavam difíceis. 


A solução para os problemas de Adão não chegou do veterinário que o tinha examinado, mas sim do acaso de os óculos da Pi lhe terem ido parar ao focinho. Com a visão recuperada e disposto a tudo fazer pelo irmão Zé, Adão foi determinante na solução do problema vivido pelo pequeno.
Contada com elevada subtileza, a história aprisiona o leitor pela forma como aborda um tema tão difícil, ao mesmo tempo que revela a intensidade e a riqueza do perfil psicológico das personagens que habitam a pequena casa branca. 


Recentemente editado pela Porto Editora, O cão que mordeu a chuva é um livro belo, tanto nas palavras eleitas por Zimler como nas ilustrações de Mestre Pomar. O formato grande e o design, com a assinatura de Henrique Cayatte, contribuem igualmente para que o leitor sinta ter na mão um livro único.  Para ler em família, para reflectir sobre muita e tanta coisa. Acima de tudo, para ler aos meninos que não têm a sorte de ter um qualquer Adão. Com ou sem óculos.