segunda-feira, 27 de junho de 2016

Tão Tão Grande


Hipopómatos e Hipopótamos são a mesma coisa? A pergunta foi feita há uns dias por um dos nossos pequenos leitores. A mesma coisa não, mas são da mesma família, respondemos. Irmãos, primos, um pouco de tudo. Conhecida a nossa paixão pelos bichos, ninguém se surpreenderá se confessarmos que exultámos quando nos chegou às mãos o último livro de Catarina Sobral, Tão Tão Grande, editado pela Orfeu Negro.


A razão mais óbvia é que o protagonista, de nome Samuel, é um hipopótamo! A irmã, o pai, a mãe, claro está, são hipopótamos! Mas há outras razões para esta família de peso não ter saído mais da nossa Casa


A história revela-se uma deliciosa e divertida abordagem sobre a temática do crescimento. Certa manhã, ao acordar, o Samuel deu por si na cama transformado num gigantesco hipopótamo. As patas já não cabiam nas pantufas, nas sapatilhas, nas galochas ou nos chinelos de praia, o focinho já quase não cabia no espelho e Samuel, até pôde constatar, estupefacto, o aparecimento de... um bigode! 


Samuel estava nervoso, não sabia o que fazer e muito menos o que dizer... Do lado de lá da porta, uma voz suave insistia para que saísse, estava na hora de ir para a escola. Mas as respostas faziam-se ouvir numa voz tonitruante proveniente de um "corpinho" de 528 kg.


As semelhanças com a obra de Kafka, A Metamorfose, são óbvias e assumidas com uma boa dose de humor. Bastará ao leitor passar os olhos pelos compêndios de entomologia  de que Samuel tanto gosta, para se cruzar com Gregor Samsa, a famosa personagem kafkiana. Dela falámos aqui, a propósito de Ícaro.


Entre alegadas dores de barriga e uma valente fome de leão, o nervosismo de Samuel parece aumentar na mesma proporção do espaço que vai roubando aos objectos, remetidos ao mundo da pequenez, que coabitam com ele no quarto. 


De forma brilhante, os desenhos de Catarina Sobral espelham não só essa relação de grandeza entre o tamanho do corpo do hipopótamo e o diminuto espaço a que se vê confinado, como igualmente o crescente nervosismo e a luta interior que Samuel vive do lado de cá da porta.  Como sair dali, eis a questão para a qual nem o princípio de Arquimedes parece ser solução.


Com a paleta de cores a que já nos habituou, onde predominam o azul e o vermelho, e um notável jogo de sombras, Catarina Sobral consegue, mais uma vez, surpreender-nos com uma história inteligente, divertida e cheia de subtilezas.
O crescimento e as transformações que dele decorrem são, muitas vezes, assustadoras e nem sempre se lida bem com elas. Mas são tão inevitáveis quanto naturais. Essa é a grande diferença entre Samuel e Gregor Samsa, que acaba justificando o final da história.


Samuel, abre a porta. Anda! - suplicou a irmã. 
A vocês, caros leitores, resta abrir o livro para saberem o que aconteceu a este tão tão grande hipopómato. Ups! Hipopótamo, queremos dizer.


quarta-feira, 22 de junho de 2016

Sonho Com Asas


Não sabia o que queria mas, se pudesse, voar seria. 


É de voar e de sonhos que fala este magnífico álbum, com texto de Teresa Marques e ilustrações de Fátima Afonso, agora editado pela Kalandraka e que arrecadou uma menção honrosa no VII Prémio Internacional Compostela para Álbum Ilustrado.


A protagonista partilha da inquietação das aves e descolar do chão com destino sem mapa parece coisa natural para quem a maneira de estar, sem estar, é sempre de olhos e cabeça no ar, nas nuvens, na lua.


Ao leitor está reservada uma bela e poética viagem pelo céu e pelo azul. Acredite ou não em fadas, siga ou não o murmúrio dos sonhos, é inevitável a percepção de que estes podem e devem concretizar-se.


Um metafórico caminho que percorremos ao lado da protagonista, num claro não à resignação, ao adiamento dos sonhos. 
Sem asas, futuro sonhado pode ficar escondido, adiado no escorrer do tempo: um dia! um dia!


As sublimes ilustrações de Fátima Afonso completam de forma irrepreensível  este tributo ao sonho. Com um delicadeza e uma beleza ímpares, a ilustradora combina diversos elementos como aves, aviões de papel, nuvens, borboletas, penas, balões e até cadeiras de baloiço, conduzindo o leitor por um voo onde lhe nascem asas de sonhar ainda mais alto. No final, uma janela que podemos abrir de par em par... Abram, abram!


Um livro que nos faz, também, querer ser (e)levados pelas aves. Em busca dos sonhos que não queremos deixar para trás. 

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Coisas de Manas

Não estranhem os leitores encontrar páginas riscadas, autocolantes colados ou desenhos rabiscados sobre as páginas deste livro: uma irmã mais nova passou por aqui... e deixou um rasto de destruição à sua passagem...


O aviso pode ler-se na contracapa do livro MANA, da autoria de Joana Estrela, vencedor do I Prémio Internacional de Serpa para Álbum Ilustrado e recentemente editado pelo Planeta Tangerina.


Não há muito tempo escrevemos aqui sobre O Que Aconteceu À Minha Irmã, editado pela Orfeu Negro. Uma deliciosa e divertida abordagem sobre a chegada à adolescência e o inevitável crescimento vistos, na perspectiva de uma irmã mais nova, convicta de que a sua irmã fora trocada. Por sua vez,  MANA é uma história narrada pela irmã mais velha, que surge em forma de carta endereçada à irmã à mais nova, retratada como um  ser extraterrestre que nem os "aliens" conseguiram aguentar por ser tão “chata”.


A narradora vai familiarizando o leitor com uma parafernália de tropelias que tipifica o comportamento da pequena e, no qual, muitos dos leitores acabam por se rever. Brinquedos partidos, livros riscados... o tal rasto de destruição para que fomos alertados. 


Escrita e ilustrada com grande dose de humor, a carta acaba por nos tornar íntimos das duas irmãs e permitir adivinhar, sem grande dificuldade, o batuque do dia a dia lá por casa. 


Ao mesmo tempo que nos elucida sobre a opinião da narradora em relação àquele estranho ser que, apesar de não saber falar nunca se cala, que apesar de ser a herdeira natural das suas roupas (onde já vimos isto???) prefere usar as do pai... As lutas, o olho por olho ou, se preferirem, o braço pelo dente são o espelho onde os mais pequenos, gargalhando, se vêem reflectidos.


A toada da carta acaba por ser inteligentemente marcada pelo crescente amenizar dos "conflitos latentes" entre ambas, subtilmente secundarizados pelo afecto e carinho que sempre acabam por falar mais alto. Para tal é determinante a partilha do dia a dia, dos objectos, dos sentimentos e até mesmo... da varicela. As afinidades são sempre em maior número do que as diferenças, à semelhança das histórias e das meias que acabam por misturar-se.


O próprio livro é o exemplo acabado, ao incluir também alguns desenhos de Mónica, esse o nome escolhido pela própria narradora para a irmã. Visualmente apelativo, com desenhos que fazem delirar os mais pequenos, com algumas piscadelas de olho à banda desenhada, fundos lisos, quadriculados ou de riscas ... A deliciosa mistura resulta numa magnífica e original história para pequenos (e grandes leitores) que, página a página, reconhecem o tanto da manta que vão pintando em casa. Coisas de todos os dias. Afinal, coisas de manas!


terça-feira, 7 de junho de 2016

À Boleia do Pato

O que é que Beja e Edimburgo têm em comum?


São as duas primeiras cidades que podemos visitar à boleia do Pato, no âmbito da nova colecção A Minha Cidade. Os guias contratados são ilustradores que por lá habitam e é através do seu olhar que visitamos e conhecemos as cidades.


Como diz o Pato, a nova colecção apresenta cidades do mundo para descobrir pelos olhos, mãos e pés de ilustradores que as habitam. 1 mapa, 12 sítios é o mote para uma viagem ilustrada e descrita por cada artista convidado, que nos chega em forma de desdobrável.  


A viagem por Beja é feita na companhia de Susa Monteiro, que nos apresenta a cidade onde nasceu através de alguns dos seus lugares mais emblemáticos. A bela Praça da República, o Castelo e a sua torre de menagem, o Cine-Teatro Pax-Julia, a Biblioteca Municipal José Saramago, a Casa da Cultura, são apenas alguns desses exemplos.


Ilustradora, co-fundadora da Bedeteca e nome indissociável do Festival de Banda Desenhada que se tornou já uma referência da cidade de Beja, Susa Monteiro apresenta-se aos leitores ao mesmo tempo que nos fala um pouco dos lugares que elegeu para dar a conhecer a sua pequena e encantadora cidade, com cerca de 23500 habitantes, que se conhecem quase todos, pelo menos de vista.




Não se trata propriamente de um guia turístico. Antes, um guia de "lugares com alma", aqueles que cada um escolhe frequentar no seu dia a dia, que fazem parte do seu percurso de vida, da sua história. Num registo bem pessoal, eis a descrição da autora para a Biblioteca: 
As estantes da literatura norte-americana, as estantes da poesia portuguesa e as prateleiras da literatura latino-americana são os meus cantos preferidos da Biblioteca. Conheci aqui escritores maravilhosos, em livros novos imaculados e outros usados como bancos de jardim. Gosto da luz, gosto do pátio, gosto das pessoas. Quando preciso de desenhar cavalos, baleias ou aves do paraíso, é aqui que os encontro a todos. Desenho aqui horas sem fim. A Biblioteca é o meu ateliê.


Marcus Oakley, ilustrador britânico que vive e trabalha em Edimburgo, foi o eleito para nos mostrar um pouco desta cidade maravilhosa. Apanhámos boleia, revisitámos alguns dos lugares de que tanto gostamos e ficámos a conhecer outros, como Jordan Valley, uma loja de produtos orgânicos de todo o mundo onde Oakley gosta de fazer compras. 



Conhecida por ser uma das mais belas cidades do mundo, a compacta e montanhosa capital da Escócia é a casa de Arthur's Seat, um majestoso vulcão extinto situado em pleno centro, diz o ilustrador, que continua a guiar-nos por vários outros lugares de Edimburgo, como A Scottish National Gallery of Modern Art, a deslumbrante Calton Hill e as inesquecíveis Peatland Hills, a Filmhouse...



O autor elege ainda a Armchair Books como um dos seus lugares preferidos: 
Perto de Grassmarket, em West Port, existe uma pequena concentração de alfarrabistas maravilhosos. O meu favorito é o acolhedor Armchair books. A loja é um pequeno labirinto formado por pilhas de livros que se amontoam do chão ao teto, em todos os espaços imagináveis. Aqui encontro uma coleção impressionante e eclética de livros de ficção, poesia, ficção-científica, mitologia, romances gráficos, não-ficção, filosofia, cultura, escoceses, artes e antiquários. São tantos livros, que é preciso passar por baixo de prateleiras suspensas por cima das nossas cabeças para circular pela loja.


Agora que as férias se aproximam, não deixem de apanhar boleia e de percorrer estas fabulosas cidades do roteiro do Pato Lógico! Nós ficámos apaixonados!

sexta-feira, 3 de junho de 2016

EU GOSTO DE TI. E TU?


O primeiro bilhete de amor. Aquele que escrevemos e que, quase sempre, acaba por ficar no bolso, na  gaveta, na mochila... 



O primeiro desgosto de amor... que muitas vezes ainda encontra consolo no ombro da mãe. As feridas do coração  que o tempo e uma nova paixão sempre acabam por sarar. Uma inteligente e doce abordagem de um tema inesgotável, o primeiro amor


Amanhã, às 15 horas, na Casa dos Hipopómatos, na Biblioteca Municipal de Sintra, os autores Inês Almeida e Nicholas Carvalho fazem a apresentação do livro. E prometem algumas surpresas! Estamos à vossa espera!