quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Tudo É Sempre Outra Coisa


A leitura deste livro pode começar por qualquer página. Mas, se se começar pelo princípio, descobre-se que há aqui alguém que gosta de ver o que há do outro lado.


As palavras do poeta fervilham-nos na cabeça. Espreitamos o outro lado do muro. Curiosos, queremos ver, ouvir, sentir... as outras coisas que todas as coisas são. Começámos pelo princípio. 


João Pedro Mésseder escreve que este é o seu primeiro livro (sem ser) de poesia. Porque tudo é sempre outra coisa, é a poesia das duas linguagens, textual e imagética, que nos faz permanecer no muro. Imaginando.


Por entre a delicadeza das ilustrações de Rachel Caiano não resistimos a  tentar agarrar essa linha que separa e liga os dois mundos. A duas cores, é nelas que, por vezes,  buscamos o sentido das palavras do poeta.




Somos fãs do trabalho de Rachel Caiano. Gostamos muito dos seus meninos de carvão, da pureza que emana dos seus rostos, do olhar doce e penetrante que nos fascina ao ponto de lhes querer dar vida, de os imaginar a correr por ruas largas e calmas, sem saída.




É como diz  o próprio João Pedro MéssederOs pintores roubam a beleza do mundo - embora eles digam que não, que lhes vem tudo da cabeça. Mas a verdade também é que o mundo não chega a perder essa beleza. Parece é que os pintores a multiplicam nos seus quadros. Talvez por isso, são os únicos ladrões que ninguém se importa que andem por aí, em liberdade.




Qual manta de retalhos, o poeta solta o pensamento pelas páginas do livro. Tentamos acompanhá-lo. Escutamos  a memória  desse menino poeta, que ainda não sabia o que era um poema, vemos os cachecóis que, na primavera, emigram para países mais ao norte, as barrigas dos egoístas que crescem para dentro, comprimindo-lhes o coração, ou a bandeira pendurada no mastro, que em dias sem vento, é como um avô adormecido no seu sofá...



Voltamos a espreitar o lado de lá do muro.  Aquilo que parecia uma manta de retalhos é agora outra coisa. O livro é também companheiro de todos os dias, unindo Hipopómatos grandes e pequenos à volta de questões como esta:
Será que os corrimões das escadas também se cansam menos a descer do que a subir?  


As coisas não passam de coisas? Ou são coisas e alguma coisa mais? A pergunta é do anterior livro desta dupla, O Pequeno Livro das Coisas, de que falámos aqui


Afinal, tudo é sempre outra coisa. Há livros assim.

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