sexta-feira, 24 de outubro de 2014

ART & MAX

Welcome to Portugal, Mr. David Wiesner! Há muito que esperávamos por si!


Um dos nomes mais conceituados da literatura infantil, o autor americano já venceu por três vezes a prestigiada Caldecott Medal, a primeira das quais em 1992, e arrecadou outras tantas Caldecott Honors.  Palmarés apenas ultrapassado por Marcia Brown.


Sem grande alarido, David Wiesner chegou por estes dias às nossas livrarias. Trazido pela Orfeu Negro,  Art & Max é o penúltimo livro do autor, numa linha algo diferente do fabuloso Flotsam (só de imagens) que o antecedeu. 


Mas nem por isso menos fabuloso!  Art & Max  é um livro sobre arte. Brilhantemente imaginativo e original, conduz-nos numa alucinante viagem por dentro do processo de criação artística, explorando métodos e técnicas, evidenciando resultados possíveis. A originalidade da obra reside no facto de Weisner  nos oferecer a possibilidade de acompanhar o processo de ilustração através da sua própria desconstrução.


O arranque da história coincide com o momento do encontro de Art(ur) e Max, os dois répteis que aqui vemos. Arthur é pintor, aparentemente metódico e disciplinado, um pouco  convencido e algo arrogante. Max também quer ser pintor. A arte parece exercer sobre ele um fascínio desmedido e, como todos os principiantes, tem o ímpeto de "meter a mão na massa". Algo voluntarioso como qualquer bom aprendiz, tem determinação q.b..


Max interpreta literalmente a sugestão de Artur e decide pintá-lo! Talvez as técnicas utilizadas não sejam as mais correctas... ou a pele de réptil não seja dos materiais mais fáceis...



O que não impede que, de imediato, fiquemos contagiados pelas cores quentes e  fortes que utiliza, lhe admiremos a arte e até nos apeteça formar um CLUBE DE FÃS do Max.  


Mesmo quando Artur aparenta explodir, projectando-se em manchas de tinta que se transformam numa dança de arco-íris aos nossos olhos.


Como se de duas histórias se tratasse, unidas pela forte componente visual, assistimos às reacções de cada um, à medida que o processo de criação vai sendo desmontado, ou se preferirmos, à medida que Art se vai reduzindo. O momento alto do trabalho de Max revela-se na generosidade do copo de água que oferece a Art quando este se sente esquisito e que conduz à diluição de toda a aguarela que ainda o cobria, vendo-se reduzido ao simples traço.



Hilariante é pouco para descrever a série de esforços que Max enceta com vista à reconstrução de  Art.  A linha que Max segura, para além do que resta daquele, consubstancia agora o fio condutor de toda a história. Quando Max decide refazer o mestre, as surpresas não param mais.



Acrílico,  pastel, aguarela... Art vai ficando sem forma. Os esforços são agora inversos. Max necessita recrear Art, e embora já tenhamos percebido que não passa de um amador, a paixão e o instinto  irão guiá-lo até ao fim.  Até lá, os olhos dos mais pequenos estarão esbugalhados e o riso andará à solta. 


     

De forma notável, ao aparente nonsense da arte de Max, que se confunde com o do próprio livro, e à bizarria resultante de tudo o que aquele faz, Wiesner contrapõe o realismo das expressões faciais e corporais, fazendo-nos esquecer que de répteis se trata num cenário nu de deserto que atravessa todas as páginas. 

    


À semelhança do próprio Max, esta é uma história desconcertantemente contagiante, provocando-nos a todos, pequenos e grandes, o ímpeto de meter mãos à obra. Viva a liberdade de criação!
Numa entrevista que podem ver aqui, David Weisner diz pensar que ambos os seus répteis aprenderam alguma coisa: estar aberto a novas ideias e possibilidades.

  

Nós estamos! Enquanto pintamos tudo o que encontramos por aqui, tentamos adivinhar quando chegará  o seu próximo livro. Obrigada, Orfeu Negro!

1 comentário:

maria antunes disse...

Ai, quero tanto! Obrigada por este post fantástico. Definitivamente vocês são os meus conselheiros de livros. Não compro um sem vir ver aqui primeiro. :) Obrigada Hipopómatos.