Casa | Carson Ellis | Orfeu Negro
As magníficas ilustrações, que nos deslumbram na sua paleta de tons sépia, vermelho-tijolo e cinzas azulados, são acompanhadas por pequenos apontamentos de texto em jeito de legendas.
Casa | Carson Ellis | Orfeu Negro
Esta História Não É Sobre Uma Gatinha | Randall de Sève e Carson Ellis | Fábula
O título deixa o leitor, no mínimo, curioso. Se a história não é sobre uma gatinha, o que faz esta bichana de olhos doces e ar de Calimero a olhar-nos fixamente na capa? Ainda que informados sobre o seu não protagonismo e, antes mesmo de abrir o livro, aos olhos do leitor ela já assumiu o papel principal.
Ao abrir o livro, o leitor dá por si numa zona residencial onde as casas quase se colam umas às outras e as rotinas dos moradores se adivinham. Os detalhes estão todos por ali. Carros e bicicletas estacionados às portas, caixotes do lixo...
O leitor acompanha todas as diligências que se sucedem para a operação de resgate. Desde o inicio que percebe que o pequeno animal se encontra debaixo de um carro, ainda que o texto não lho diga expressamente. Torce para que todas e cada uma das pessoas que vão chegando sejam bem sucedidas. E exulta quando a pequena gata é retirada dali, alimentada e até... baptizada.
A história pode não ser sobre a gatinha, mas é, seguramente, sobre o poder que ela tem de transformar uma comunidade de pessoas praticamente desconhecidas num grupo de bons e unidos vizinhos. Porque é do espírito de entreajuda, de solidariedade e de generosidade que fala esta história. A diversidade que atravessa o grupo é revelada ao leitor pelas magníficas ilustrações de Carson. E deixa-nos a pensar que, nos dias que correm, precisamos de mais gatinhas como esta para abrir as portas dos bairros e conhecermos aqueles com quem partilhamos lugares e rotinas de vida.
De uma dupla de autoras bem conhecidas e premiadas, este é um livro capaz de reunir e cativar leitores de todas as idades. Somos fãs do trabalho de Carson (quem não se lembra do seu Ké Iz Tuk) e congratulamo-nos-nos por a ver chegar até nós através de diversas editoras. Mas como na vida, nem tudo nesta história é simples. O que irá acontecer, agora, a esta gatinha? São muitos e de vária ordem os obstáculos elencados por cada um dos seus novos amigos. Conseguirá ela uma família que a adopte? Cabe ao leitor visitar este bairro de gente boa e descobrir o desfecho desta deliciosa história. Miau!
As Casas das Coisas | João Pedro Mésseder e Rachel Caiano | Caminho
Apresenta-se como um livro de prosas pequeninas que desafia a pensar, e onde a diversão e a poesia dão as mãos. À primeira vista, parece pensado para gente pequena. Mas o leitor conhecedor dos seis livros desta série sabe que não é assim. A escrita méssederiana não tem idade. Já aqui escrevemos, a propósito do autor, que a sua escrita intensa e plena de sentidos é um ponto de encontro entre pequenos e grandes leitores.
Talvez por falarem de coisas de todos os dias, os pequenos livros desta série albergam o leitor vagarosa e prazenteiramente, impelindo-o a pensar. Sobre as coisas, sobre a vida. Afinal, esse é o objectivo do autor . As metáforas povoam-lhe o universo, apresentando-se envoltas em subtileza. Assim como algumas das casas que encontra para as coisas.
A casa da luz eléctrica será a escuridão?
E a areia sem-abrigo terá ela casa?
Os livros possuem segunda habitação, de férias?
A delicadeza das ilustrações de Caiano, parceira em todos os livros da série iniciada em 2012, guia-nos por todas estas casas por onde vamos entrando. Com o traço genuíno e puro a que já nos habituou, as páginas vão revelando uma imensa cumplicidade entre imagens e texto. Uma harmonia que respira liberdade. À semelhança do vento que é casa para o cavalo.
Quando é que a bruxa má perde a casa? Será, sem dúvida, uma questão que os mais pequenos gostarão de deslindar. Tal como as casas da Lua, da chuva, dos pássaros... Enquanto isso, nós, leitores mais velhos, vagueamos por este universo, reflectindo sobre outras casas. Como a triste casa do Pai Natal ou a casa que a areia sem-abrigo não tem. Até porque quando iniciámos a viagem, a pergunta já nos ocupava a cabeça : Haverá coisa ou pessoa que não precise de casa, casinha ou casarão?